Blum. Do espetáculo para a vida

10:48

elenco do espetáculo Blum do parque Beto Carrero

Espetáculos circenses, acrobatas e bailarinas nunca me fascinaram. Por alguns segundos, talvez, atraíssem um pouco mais da minha atenção, mas a longo prazo sempre tornavam-se maçantes.

No entanto, o parque Beto Carrero mudou algo em mim. Não digo agora que sou apaixonada por tudo isso, mas existe lá um ar de mistério que eu quero descobrir.

Acredito que aquilo que fazemos por amor sempre passa a algo maior. Não pode ser ignorado por nós mesmos e quando conseguimos transmitir aos outros, o vislumbre é inevitável e memorável.

Não, eu não conheci João Batista Sérgio Murad (Beto Carrero como ele mesmo criou), não o conheci mais do que a TV mostrou ou que os profissionais de turismo puderam contar. No entanto, ele parecia incrível. Tanto quanto o publicitário que era queria que pensássemos. Mas, era mais do que isso. Era o sonho transformado em realidade em tudo que tocava.

Um menino comum e de situação financeira instável de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, com um sonho um tanto incomum e com persistência suficiente para nos dar a verdadeira lição.

De fato não importava o dinheiro ou a falta dele. Não importava o que dava certo e muito menos o que não dava. Importava apenas onde queria chegar. O sonho do caubói, realizado. O zorro em tempos em que ninguém mais se permite acreditar.

Ele construiu, sobre a incredulidade, um mundo fantástico. Penso que foi isso o que me fez querer voltar tantas vezes e ainda sim, sentir que foram poucas. Permanecer ali nos faz sentir que algo no mundo ainda não está perdido.

A preservação da natureza aliada a esperança nos faz a promessa de termos mais coragem e confiança para fazermos mais e melhor.

E dentre tantos objetos místicos e shows iluminados, escolho agora um. Quero atentar que, das outras vezes que fui, não me importei com esse... Mas, agora, vejo que nada lá pode ser ignorado.

A princípio parece banal e de repente, somos pegos de surpresa. Não há como escolher uma só atração que nos deixe menos ou mais deslumbrados. E, como disse anteriormente, escolhi essa justamente porque a subestimei.

Entrei para assistir ao espetáculo Blum porque me afirmavam aproximar-se do que era conhecido nas apresentações do Cirque du Soleil. Era uma sala relativamente pequena se comparada as demais. Sentei e fiquei esperando sair antes do fim da apresentação. Começou uma espécie de teatro com pessoas caracterizadas como criaturas do fundo do mar e tive a certeza que sairia educadamente pela porta lateral quando a primeira pessoa começou a rir.

Então as cores começaram a surgir e a mudar as roupas dos personagens, que suspensos no ar, giravam. Eu tive medo que caíssem. Grudei ainda mais na minha cadeira como se pudesse de alguma forma me firmar e também a eles. Alguém tinha que fazer alguma coisa.

Ela ia cair. Estava segura apenas por uma única mão... a dele. E quem era ele? Tão fantasiado, que criatura seria aquela que a segurava? Isso não importava mais. Agora, era ela quem o segurava. O segurava por tão pouco que ele poderia cair a qualquer instante... Mas, não caiu. Não caiu porque ela o segurou e aquilo parecia doer. Doía, com certeza doía. Mas, ela não o soltaria.

Se ele caísse ela não se perdoaria. Eu fiquei pensando, ali na plateia, o que doeria mais: o braço dela por aguentar tanto peso ou por vê-lo cair se não pudesse segurá-lo.

Não tive a resposta em palavras, porém em gestos. Os dois desceram da suspensão lentamente como se fossem leves, leves como algodão. Mais algumas acrobacias, cores e bolhas. De onde vinham as bolhas? Do teto escuro desciam bolhas coloridas e tão sensíveis que ao toque, estouravam.

Ele a beijou. Ela o beijou. Foi no mesmo instante. Sincronia e confiança. Tão bonito, tão leve, tão fantástico que voltei a ter fé nas pessoas e nos seus sonhos... nos meus sonhos e como os outros poderiam fazer parte deles.


            


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