Devaneios

09:38

labirinto, só se sai da vida vivendo

E toda a minha sanidade foi varrida. Eu olhava para um ponto fixo e só conseguia pensar no quanto as coisas pareciam não funcionar. Mas, eu não queria pensar em nada. Eu sempre quis ver o final da história e nunca tive paciência para ler devagar. Ah, mas quando não tinha solução eu lia, não devagar. Lia e lia a todo o momento e adiantava algumas linhas pouco interessantes. Consultava páginas à frente, só pra saber o que ia acontecer.

Em seriados era muito fácil pular alguns episódios e, por vezes, ter que voltar para entender melhor. Podia saber do futuro e ainda sim, não perder nenhum detalhe importante em minha curiosidade. Tudo acabava se encaixando, e o fim, mesmo que distante, era conhecido. O sofrimento seria esquecido e nunca mais retornaria para a vida dos protagonistas.

No entanto, no que diz respeito à vida real, eu ainda era a mesma criatura ansiosa e preocupada. Não havia como adiantar partes, pular o sofrimento ou ter a garantia do final feliz. E ainda, se chegasse a algum final feliz, logo viria outro acontecimento que mudaria tudo e partiria então para o próximo final feliz. Sabendo que final mesmo não existe na vida, o que existe são as reticências.

O fim só seria real com a morte, porém, se todo o problema girava em torno do sofrimento... Como morrer sem dor, sem o sofrimento que a antecede? Como prever e com isso, escapar ileso?

Não haverá como. Decidi. É muito fácil viver de momentos. Amar alguém porque em determinado momento ele foi perfeito, porque em determinado momento ele te colocou em prioridade. É muito fácil amar alguém que em algum momento te pegou nos braços e rodopiou com você na rua como louco, como se toda a história não fosse importante. Somente um momento. Daí, você tem que juntar na mente os fragmentos daquele momento e com eles, passar o resto da vida feliz. Feliz com alguém que não foi nada mais do que um momento. Momentos passam.

O príncipe encantado terá rugas por muito mais tempo do que teve belos olhos, será enervante por muito mais tempo do que fez de tudo para lhe agradar, reclamará do seu peso e dará mil desculpas para não ter que pegar sua mão em público e você jamais saberá a história toda não seria mesmo importante.

Você vai duvidar. Vai duvidar da sua posição social, do seu trabalho, dos seus amigos, da sua sanidade. Vai duvidar dos seus objetivos, dos planos para alcançá-los, do dinheiro na conta, da felicidade que nunca bate na porta. Vai dizer, se arrepender, pedir desculpas. Vai duvidar e nunca mais pegar uma caneta na mão, escreverá e apagará enquanto for possível.

Eu lhe digo, a história toda é importante. Os detalhes são importantes. O fim, por sua vez, se tem um ponto ou reticências, não é importante. Se preocupar com aquilo que não está ao seu alcance e achar que sabe de tudo e que pode controlar tudo, é errado. Não há como voltar atrás, pausar ou pular etapas, não dá pra julgar o duvidoso sem arriscar. Não dá para ficar o tempo todo só assistindo.

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