Proatividade

03:49

maçãs

Quando há pouco o que fazer as horas se arrastam e minhas pernas balançam impacientes. Mas, não. Hoje a calmaria passava longe. Era mais um dia. Mais um dia de trabalho infindável e eu estava animada, por fim, acho que gosto mesmo da correria dos dias.
Cheguei do almoço pronta para terminar tudo aquilo que começara no primeiro período quando então, alguém que me aguardava perguntou insistente:
- E se você morresse? Mais ninguém faz o seu serviço por aqui? Tive que esperar um tempão até você chegar. E se você não chegasse?
Pois bem, vi o que queria e fiz o que me pediu rapidamente. Não me ofendi, até achei um tanto engraçada a questão, mas depois me refiz a pergunta por incontáveis vezes. E se eu morresse?
Não fico de fato preocupada com o serviço e quem o faria no meu lugar. A questão vai muito além disso. A minha curiosidade inquietante e a mente vagante calados por período indeterminado... Isso sim era ruim de se imaginar. No entanto, seria isso que aconteceria se eu morresse?
É claro que o que viria depois não importaria mais para mim, já que uma vez morta e em qualquer lugar que não fosse aqui, não teria mais nada o que fazer sobre os acontecimentos posteriores. De qualquer maneira, a questão subsequente foi ainda mais desprezível: Por que então, viver?
Não é sobre suicídio, tenho horror a esse pensamento mesquinho e fracassado. É sobre o que nos leva a viver cada dia se o fim, mesmo que duvidoso, é certo.
Você gosta ou não da sua carreira, dos seus amigos, da sua família, dos seus animais e amores. Morrer pode tragicamente apagar tudo aquilo que você construiu com um único golpe. Pense só no que isso culminaria... A irrelevância de todos os seus atos.
Talvez seja esse o significado daquela palavra que as empresas prezam tanto: proativo. Ver os problemas antes que aconteçam e os solucionar. E como solucionar a dizimação total pela morte do ser? Como ser realmente importante a ponto de fazer falta na vida das outras pessoas?
Creio que para fazer falta primeiramente é preciso fazer a diferença. Existem rótulos coloridos demais nas prateleiras, nos fazem ter a visão turva quase que permanentemente. Como ser diferente assim, sem acabar preto no branco?
Um dia desses escutei um senhor com seus setenta e tantos anos falando sobre sua mulher como se fosse um achado. Sentia-se sortudo por tê-la e argumentou estar pedido se a mesma se fosse pela doença que há pouco enfrentara. Quis saber o que tinha aquela mulher de especial e ele me disse simplesmente:
- Ela sempre está lá.
Pareceu um motivo plausível. Não a tornava estupefante tampouco enfadonha. Era a medida certa. Estava lá, não só fisicamente. Estava lá, pronta a ajudar em bons e maus momentos. Prestativa, o que tornava o marido do mesmo modo.
Percebi que, assim, vale viver. Vale viver pela intensidade que se dá as pequenas coisas. Fazer o seu melhor sempre trará o melhor das pessoas e acabará por te tornar diferente. Diferente das pessoas que passam pela vida deixando beiradas inacabadas, achando que tudo é supérfluo ou desgastante. Fazer o seu melhor e ser prestativo é fazer a diferença e pessoas diferentes fazem falta. Pior do que morrer, viver em vão.

Postagens relacionadas

0 comentários

Cadastre-se para receber conteúdo em primeira mão!