O último príncipe do asfalto

13:06

buquê de rosas e cartão

Um buquê de rosas e um cartão. Um convite para sair no final de semana. Muito bonito, eu confesso. Escrito à mão. Coisa rara! Sim ou não? Eu tinha que responder ao entregador do meu presente misterioso.
O sol adentrou pelas cortinas do meu quarto atingindo-me diretamente na face. Custou-me a entender que tudo não passava de um sonho. Mas como não seria?
Com tanta violência, sequestros e assassinatos tendo mulheres como vítimas principais, sinto-me também ameaçada. Caminho pelas ruas e olho para os dois lados não só para atravessar a rua.
Tantas mulheres que lutaram pela independência não podem sequer andar sozinhas sem se preocupar. Uma vez que a noite não é mais tranquila, qualquer gato que perambula pela calçada ao lado vira suspeito. E isso não é medo de fantasmas. Medo mesmo são dos vivos, que costumam ter ideias malucas passando por suas cabeças.
Desiludida é a palavra para definir aquela mulher que se aventura em aceitar um convite de um homem, conhecido ou não. Como Ícaro chegando perto demais do Sol, mulheres são atraídas por falsos príncipes encantados. Resquício da infância, onde existiam tantos heróis masculinos, ou apenas o último suspiro de fé nas pessoas boas?
Não sei quando puxar a cadeira para uma dama virou motivo de vergonha. Em contrapartida, vários são os que exibem como troféu o rosto deformado de suas mulheres. Mulheres estas que antes confiaram neles.
Hoje, uma mulher não pode pensar em ir a um encontro sem ter um arsenal na bolsa.
- Nunca se sabe- dizem as pessoas.
É claro que ainda existem bons homens. Bem como existem mulheres ruins.
Porém, os jornais estampam diversas vezes o preço que algumas pagam por confiar nas pessoas erradas, e esse preço é alto demais. Os tempos realmente mudaram. Nada de mãos dadas e cumprimentos com beijos em nós dos dedos. E em cada decepção, mesmo que não seja fatal, uma marca é deixada.
Conquistar, beijar e dar um pé na bunda. Em todos os sentidos da palavra. Mulheres são descartadas como se algum dia tivessem sido expostas como amostra grátis de cosmético barato em farmácia.
Nada mais dessa tolice romântica escrita à mão em formato de carta. Nada mais de fugas repentinas pela madrugada sem acordar em uma sarjeta qualquer.
Não imagino um Shakespeare que sobreviveria numa época tecnológica como esta. Que romance escreveria? Paixões que começam com um bipe no celular não dariam lá tanta veemência aos enamorados.
Os romances atuais parecem estranhamente ter um prazo de validade, nunca me falaram sobre um, mas o desgaste da sociedade parece que atingiu fortemente a índole das pessoas.
Onde estão os príncipes que ousam sequer abrir a porta do carro? Tudo bem, não existem cavalos a serem galopados em resgate da princesa no topo do castelo, mas existem mulheres, muros e algum meio de transporte, nem que seja uma bicicleta. Por Deus! Mais romantismo.
Não queremos títulos da realeza e castelos com jardins em reinos distantes. Queremos homens, homens de verdade, que nos transmitam segurança, que nos elogiem vez em outra. Queremos príncipes nesse asfalto sem fim.

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