Distantes
14:33
Tantos quilômetros e você ainda é, para mim, único. Não há alguém
que o possa substituir hoje e em anos no tempo. É uma constante do multiverso.
Mas, eu me perco nos detalhes. Tenho medo que me esqueça. Tenho medo que eu
esqueça. Não posso esquecer um detalhe importante como aquela covinha que tem
no seu rosto quando sorri ou aquele biquinho que faz e eu quase choro com você.
Tenho medo do abismo infindável que é o esquecimento. Tenho medo do
desconhecido e principalmente de ser condenada a viver dentro dele. Tenho medo
e amarro fitinhas nos dedos, faço marcações nas mãos à caneta, anoto
bloquinhos... Às vezes passa tanto tempo que os lembretes nem fazem mais
sentido. Eu quero que façam!
E se eu não mais me lembrar? Você ainda estará lá? Me fará todas
as vezes recordar que foi você quem me salvou da escuridão? Poderá me salvar
mais quantas vezes? Eu preciso saber.
Se eu não me lembrar, tudo não passará de um simples borrado. Será
em vão. Eu repeti tantas vezes que precisava que se lembrasse, você repetiu
tantas outras que não se esqueceria. Mas, anos depois o medo se transforma e
retorna. Se o contrário acontecer? Poderá você explicar novamente tudo isso ao
meu medo? Não sei lidar com a minha insanidade sozinha, posso me esquecer de alguma das minhas fixações e isso seria catastrófico.
Parte de mim quer deixar você ir, quer se esquecer, morrer em paz.
Sem ter o que lembrar não existiria preocupação em esquecer. Porém, não o
deixo. Talvez eu tenha adquirido um certo gosto pelo sofrimento em pequenas
doses, ou quem sabe, seja um veneno doce suficiente para compensar seu mal.
De qualquer forma, você vai e sempre volta. Assim como eu.
Teimosia demais para ficar perto, amor demais para permanecer longe.
Então, decido colecionar cartas,
lembretes e fotos. Cada gesto e cada instante, gravados. Se não em mim ou em
você, em uma prova. Uma prova de que o real é bem mais do que pode ser
armazenado em um cantinho qualquer de mentes inquietas. Motivos para viver
tantos dias com e sem você.
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