Super-herói de todo dia
14:31
Hoje sem querer me lembrei de quando, ainda pequena, tentava
escrever. A professora, que não recordo o nome no momento, pediu para que os
alunos escrevessem sobre um super-herói. Mas, teria que ser um super-herói
inventado por nós mesmos e que vivesse uma aventura.
Eu, que sempre fui apaixonada por histórias com heróis, escrevi
logo duas páginas. Era bem mais do que a professora havia pedido e mesmo assim,
terminei a história com reticências.
Ao entregar a redação, empolgada, disse que a história continuaria
e que muitas outras aventuras poderiam acontecer, até citei algumas. Dias
depois recebi a minha redação de volta com uma nota mais baixa do que eu
esperava e com uma explicação que até hoje não entendo.
Ela me disse que a história tinha acabado sem final e que eu
deveria então, ter colocado todas as aventuras que tinha pensado. Não sei se
ela havia gostado tanto que queria ter mais o que ler ou se acreditava que por
preguiça, coloquei reticências.
De qualquer maneira, hoje penso que talvez um herói que salve o
mundo apenas uma vez seja bem melhor do que aquele que passa a vida toda
salvando e salvando as pessoas de qualquer desastre.
Um herói que salva o planeta uma única vez teria seu nome
estampado nos jornais instantaneamente e seria venerado por décadas. Porém, um
herói que salva o planeta todo dia, cai na monotonia.
Todos logo se descuidariam só porque sabem que tem alguém, ali,
prontinho pra lhe salvar. Os esforços agora seriam em vão e o mundo estaria
perdido de vez. Por conta dele: o herói de todo dia.
Nós mesmos temos mania de achar que podemos salvar quem não quer
ser salvo. Mania de achar que os maus-tratos diários são culpa do stress gerado
pelo trabalho, mania de achar que um banho cura a ressaca pra sempre, que uma
folha de alface no x-tudo vai nos deixar mais saudáveis, que a traição foi coisa
do momento, que desapego material é o mesmo que desamor pelo próximo.
Não, o herói não vai estar sempre ali. Não vai salvar o mundo
todas as vezes. Ele vai se cansar. Vai te deixar só. Porque somos humanos,
errantes e ainda sim impacientes com o erro alheio. Humanos, com sentimentos e
ainda sim aproveitadores da compaixão alheia.
Nós não temos que ser heróis todos os dias e muito menos precisar
de um pelo mesmo período. Assistindo o filme Walt nos bastidores de Mary
Poppins, vi que nós criamos os heróis perfeitos para que eles nos salvem da
realidade e nos decepcionamos quando não conseguimos os tocar. São apenas
invencionices, apenas a esperança vestindo capa vermelha. Nós não precisamos
salvar a todos, precisamos apenas nos salvar.
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