Um bombom pra você

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bombom sonho de valsa

Era um dia tedioso como tantos outros. Uma daquelas quartas-feiras nubladas. Nem começo nem fim de semana, nem sol, nem frio, nem chuva. Um meio termo de deixar qualquer um com sono. Mas acontece que são estes os dias em que se tem maior probabilidade de algo memorável acontecer, nesses dias em que qualquer vento um pouco mais forte pode parecer um furacão, ou quem sabe, ser realmente um. As pequenas coisas por fim são as que mais valem.
Estava lá, como sempre, cobrindo um e outro horário de almoço. Passava as compras dos poucos clientes que arriscaram sair de casa até ficar completamente sozinha em um dos horários menos movimentados.
Fiquei ali assim por uns vinte minutos, talvez mais, talvez menos, até um carro parar no estacionamento. Um carro comum, de onde desceu um senhor comum, mas que teve uma atitude um tanto incomum.
As pessoas que vão ao mercadinho do interior costumam conversar, contar da vida os detalhes. Ou, em casos mais fechados, passam pela operadora de caixa sem abrir a boca e saem sem olhar para trás. Mas aquele senhor não.
Entrou, passou por mim me cumprimentando educadamente, esticou o braço para alcançar um bombom. Para ser mais exata, dois. Eram dois bombons.
Pediu para que eu fizesse a conta, bipei cada um no caixa e logo disse o valor. Me deu o dinheiro e junto dele um dos bombons. Assim que agradeci ele saiu. Ele repetiu o mesmo ato várias vezes sem nunca me dizer quem era e porquê. Sempre dois bombons, um é claro, era meu.
Algum tempo depois as visitas ao mercadinho cessaram. Não, eu não imaginava o pior. Jamais! Fiquei triste, não pela falta do bombom, mas pela companhia naqueles poucos minutos felizes das tardes entediantes.
Até que um dia chegou uma mulher, animada como ela só. Vestia-se bem, falava em bom tom e cumprimentava com beijos na face. Entregou-me um bombom e disse: Mandaram lhe trazer.
O senhor simpático das tardes entediantes havia se mudado para outra cidade e eu descobri que o segundo bombom nunca fora dele e sim dela. Aquela mulher me disse sobre a felicidade imensa escondida nos olhos compassivos daquele senhor e eu pude perceber o quanto abençoadas fomos por conhecê-lo.
Existem pessoas que compram carros, casas e até cadeiras no céu. Estas colecionam fortunas e, se as perdem, são instantaneamente esquecidas. Outras porém, são as que compram bombons. Elas colecionam sorrisos e são lembradas por eles. Só queria vê-lo hoje para poder dizer que não me esqueci do dele, mas acredito que ele já saiba.


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