Prisão sem grades
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A pior prisão é aquela que não tem grades. Aquela
que te faz acreditar que merece ficar ali, que não sobreviveria nem um segundo
por conta própria. E ela estava lá.
Por um instante só queria ficar imóvel. Ver o
movimento das cortinas balançadas continuamente pelo ventilador parecia fazer
algum sentido. Não que tivesse tempo sobrando, pelo menos não com seus dois
empregos e as várias rugas que acumulava perto dos olhos. Não costumava ser
assim, era cheia de si, entusiasmada. Se perguntassem, não saberia como foi.
Mas agora vendo o caminho longo percorrido qualquer lugar parecia distante
demais. Queria ficar ali, parada.
Acredito que existem pessoas que nos fazem tão
bem que cederíamos facilmente parte de nossas vidas por elas. No entanto,
outras nos fazem tão mal que não restaria nada de nós a oferecer. E se estas
pessoas fossem as mesmas? Duas caras. Conseguiria dizer o momento exato do
desenlace ou se entregaria à degradação?
Em cada decisão, uma parte de nós treme de medo
da repreensão. Em cada passo à frente uma parte nós sempre quer ficar. Em
grandes quantidades esses sentimentos nos consomem.
Aprendi no pouco tempo que tive aulas de
psicologia (e agradeço por isso), que grande parte das pessoas se aproximam das
outras pela necessidade de pertencer a um grupo, uma necessidade que só existe
nas suas cabeças. Para não serem solitárias, as pessoas se sujeitam a
abstinência dos seus gostos para se dedicar ao outro. Obstinados a viver uma
vida coletiva a qualquer custo, ouvem xingamentos, choram por brigas, sofrem
agressões e são humilhadas. No fim, pensa que merece aquilo ou que melhor assim
do que de jeito algum. A busca pela aceitação não cessa.
Mesmo os sequestradores conseguem ser amados
pelas suas vítimas. Síndrome de Estocolmo, já ouviu? Ter atenção, mesmo que nas
piores condições é admirável aos olhos humanos. Olhos estes que nem sempre
enxergam bem. Quimera. Não se pode amar alguém que nunca foi real. Ou pode?
O amor é um conjunto de boas intenções e
realizações, você não só ama aquele indivíduo mas ama o que ele faz por você.
Isso, inclui o jeito e a intensidade com que o faz, logo se não há nada disso,
também não há amor. O que reside aí é a insegurança e a desproteção. Resta a
ela, nossa querida personagem um pouco confusa, lembrar que o mundo pode não
ser tão cruel assim e que o amor é diferente para cada um e muda ao longo do
tempo. Quem sabe não é hora de espiar o que tem lá fora?
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