Criar laços
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Doeria
menos se não significasse nada, se não fosse necessário. Doeria ser sozinha,
mas doeria por um período de tempo, pré determinado, até enfim se acabar.
Doeria e acabaria a mesmo modo que começou a doer. Porém, agora, dói sem
previsão de acabar.
A
dor não passa, é apenas esquecida. Doeria ser sozinha quando tantos parecem bem
mais felizes aos pares. Doeria, mas terminaria porque nunca existiu a essência
da dor de verdade.
Eram
só suposições até então. Os risos poderiam ser forçados, o brilhos nos olhos
mera luminosidade favorável. Era ideologia, não dor. Não é possível saber se
gosta ou não gosta realmente de algo antes de provar; e eu provei.
Quando
dizem que ninguém é feliz sozinho esquece que também não é infeliz consigo
mesmo. Agora, o que resta é conviver com a plena certeza de que existe algo
fora de mim que faz com que seja melhor aqui dentro. Algo que, ironicamente,
não posso controlar. É a benção e a maldição de nos apegar a alguém.
Já dizia
Antoine de Saint-Exupéry: “Se tu vens, por
exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz.”. Mas, e
depois? Quando, as quatro e tantas, não avistar ninguém? Serei eu então
condenada a esperar pela simples lembrança e, então, “descobrir o preço da
felicidade”.
Criar
laços. Criar laços e amarrá-los com a esperança. Prendê-los bem. Em nossa
memória, em nosso coração... para que não desatem jamais. Atentar-se a quem nos
faz bem e dar-lhes laços em presentes rotineiros de valor maior do que o dinheiro
pode pagar.
Os
dias passam depressa, os anos que parecem longínquos chegam logo. E se sabemos
que nada durará para sempre, talvez devêssemos pensar diariamente como fazer de
cada dia, único. Se a eternidade ainda não nos pertence, que aprendamos a fazer
durar aquilo que temos e deixar ir o que não pudermos segurar para só então
começarmos a depender da memória.
3 comentários
Se inspirou na minha historia para escrever essa crônica? Me emocionei, do nada percebi que meus olhos estavam suando!
ResponderExcluir*---* Que bom que gostou!
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