Uma rosa roubada
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De skate no pé e rosa na mão, era o romeu de toda
a cidade, rei do romantismo esquecido e expulso do castelo por seus ideais
incomuns. Ele era um quase herói que voava pelas ruas noite adentro. Beija-flor
de casa em casa levando amor. Quem dera fosse também assim os grandes, quem
dera fosse assim quem tem muito com os que nada têm.
Se uma daquelas rosas me pertencesse, seria mais
feliz os dias e sorriria em todos eles ao acordar, eu agora saberia que não só
estava viva, tinha alguém que me cuidava. Me pegaria contando estrelas, caçando
formato em nuvens. Seria eu também feliz se uma rosa daquelas fizesse sumir as
grades que eu mesma colocara a minha volta.
O mistério que se escondia em cada pétala faria
valer cada manhã. Não tinha cartão com nome ou frase bonita. Não tinha nada
além da beleza de cor viva e o anonimato de um romântico incurável.
Eram tantas as flores que em pouco tempo se
acumulavam no chão. Como era triste ver os jardins cobertos de vermelho
queimado. As flores tinham dono, mas não deveriam ter. Fariam felizes tantas
moças que ao acordar perceberiam que a realidade ainda podia ser melhor do que
um sonho tranquilo.
Quebraria a rotina e resgataria as donzelas em
perigo. Salvá-las-ia da monotonia diária, dos playboys sem conteúdo, dos
cachorros de raça.
Seriam eles castigados pelos seus crimes de bom
coração? Seriam eles julgados por seus atos inconsequentes e sua vontade de
mudar uma pequena parte do mundo?
Fora da realidade, numa sociedade escandalizada.
Eles não eram o padrão comum e exemplar de bom moço da cidade, mas eram livres,
talvez libertinos. Ainda assim, mesmo julgados, acreditavam e porque
acreditavam logo eram algo a mais que as centenas de pessoas que acumulavam
milhões.
Aqui tudo tem um preço, tudo é comprável. Quem
não tem o que quer quando tem o que todos querem? O dinheiro, papel tão
ridículo que é, pega o que quer de quem tiver em toda parte. Queria eu ver você
sobreviver com uma rosa na mão e um skate no pé. Queria eu ver o que iria fazer
se nada mais tivesse a venda, se nada mais tivesse preço.
Não tem preço um aperto de mão, não tem preço um
abraço, não tem preço um beijo, uma declaração de amor. Não tem preço e logo
você não pode comprar. Quero ver você viver com dinheiro num lugar onde ele não
vale nada.
Naquela pequena cidade tudo tinha um preço. Os
tênis, os shapes, os bonés, as calças, as camisetas largas e os cd’s do Charlie
Brown. Porém, as rosas não teriam e valeriam mais que qualquer tesouro.
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