Blum. Do espetáculo para a vida
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Espetáculos circenses,
acrobatas e bailarinas nunca me fascinaram. Por alguns segundos, talvez,
atraíssem um pouco mais da minha atenção, mas a longo prazo sempre tornavam-se
maçantes.
No entanto, o parque
Beto Carrero mudou algo em mim. Não digo agora que sou apaixonada por tudo
isso, mas existe lá um ar de mistério que eu quero descobrir.
Acredito que aquilo que
fazemos por amor sempre passa a algo maior. Não pode ser ignorado por nós
mesmos e quando conseguimos transmitir aos outros, o vislumbre é inevitável e
memorável.
Não, eu não conheci João
Batista Sérgio Murad (Beto Carrero como ele mesmo criou), não o conheci mais do
que a TV mostrou ou que os profissionais de turismo puderam contar. No entanto,
ele parecia incrível. Tanto quanto o publicitário que era queria que
pensássemos. Mas, era mais do que isso. Era o sonho transformado em realidade
em tudo que tocava.
Um menino comum e de
situação financeira instável de São José do Rio Preto, interior de São Paulo,
com um sonho um tanto incomum e com persistência suficiente para nos dar a
verdadeira lição.
De fato não importava o
dinheiro ou a falta dele. Não importava o que dava certo e muito menos o que
não dava. Importava apenas onde queria chegar. O sonho do caubói, realizado. O
zorro em tempos em que ninguém mais se permite acreditar.
Ele construiu, sobre a
incredulidade, um mundo fantástico. Penso que foi isso o que me fez querer
voltar tantas vezes e ainda sim, sentir que foram poucas. Permanecer ali nos
faz sentir que algo no mundo ainda não está perdido.
A preservação da
natureza aliada a esperança nos faz a promessa de termos mais coragem e
confiança para fazermos mais e melhor.
E dentre tantos objetos
místicos e shows iluminados, escolho agora um. Quero atentar que, das outras
vezes que fui, não me importei com esse... Mas, agora, vejo que nada lá pode
ser ignorado.
A princípio parece banal
e de repente, somos pegos de surpresa. Não há como escolher uma só atração que
nos deixe menos ou mais deslumbrados. E, como disse anteriormente, escolhi essa
justamente porque a subestimei.
Entrei para assistir ao
espetáculo Blum porque me afirmavam aproximar-se do que era conhecido nas
apresentações do Cirque du Soleil. Era uma sala relativamente pequena se
comparada as demais. Sentei e fiquei esperando sair antes do fim da
apresentação. Começou uma espécie de teatro com pessoas caracterizadas como
criaturas do fundo do mar e tive a certeza que sairia educadamente pela porta
lateral quando a primeira pessoa começou a rir.
Então as cores começaram
a surgir e a mudar as roupas dos personagens, que suspensos no ar, giravam. Eu
tive medo que caíssem. Grudei ainda mais na minha cadeira como se pudesse de
alguma forma me firmar e também a eles. Alguém tinha que fazer alguma coisa.
Ela ia cair. Estava
segura apenas por uma única mão... a dele. E quem era ele? Tão fantasiado, que
criatura seria aquela que a segurava? Isso não importava mais. Agora, era ela
quem o segurava. O segurava por tão pouco que ele poderia cair a qualquer
instante... Mas, não caiu. Não caiu porque ela o segurou e aquilo parecia doer.
Doía, com certeza doía. Mas, ela não o soltaria.
Se ele caísse ela não se
perdoaria. Eu fiquei pensando, ali na plateia, o que doeria mais: o braço dela
por aguentar tanto peso ou por vê-lo cair se não pudesse segurá-lo.
Não tive a resposta em
palavras, porém em gestos. Os dois desceram da suspensão lentamente como se
fossem leves, leves como algodão. Mais algumas acrobacias, cores e bolhas. De
onde vinham as bolhas? Do teto escuro desciam bolhas coloridas e tão sensíveis
que ao toque, estouravam.
Ele a beijou. Ela o
beijou. Foi no mesmo instante. Sincronia e confiança. Tão bonito, tão leve, tão
fantástico que voltei a ter fé nas pessoas e nos seus sonhos... nos meus sonhos
e como os outros poderiam fazer parte deles.
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