Morros e pedras enormes
fazem parte da paisagem de Florianópolis. Casas de ricos e pobres estão
penduradas sobre eles. É a igualdade ainda que irregular. Você está ali, apenas
de passagem, apenas admirando. Se pergunta como foi possível colocar uma casa tão
firme em um lugar daqueles...
Não deve ser nada fácil
construir coisa qualquer em cima daqueles morros e pedras, admito. No entanto,
ignorando as dificuldades, a paisagem estabelece certa paz e conforto.
Há sempre aquele frio no
fundo do estômago como quem espera pelo pior em um piscar de olhos. Porém, logo
passa. É besteira. As casinhas continuam fixas e as pessoas circulam pela ilha
em movimento constante.
É assim que deve ser.
Pessoas vão e voltam se quiserem. E é impossível não olhar para aquelas pedras
enormes sem imaginar o quanto se aplicam a nossa vida diária.
Há pessoas que despejam
tanto sobre as outras que deixam qualquer sentimento soterrado. Depois, pedem
para que saiam lá de baixo ignorando toda a força que lhes custa.
São pedras. Pedras enormes
sobre pessoas diminuídas. Os gritos, as palavras amargas e a falta de compaixão
estão sobre você agora. Você não quer mais sair de lá e que venham as pedras,
não importa. Está difícil de aguentar de qualquer forma.
Mais uma, mais outra...
De repente, para. Não há mais gritos ou pedras caindo. Você continua lá,
diminuído e desfigurado por todo o peso. Vem o silêncio, a calmaria. E como se
nada tivesse acontecido, tentam te arrancar das profundezas. É difícil para
você, mas nunca pra quem grita. Ele não viu as pedras. Não sentiu quanto doem.
Está sobre todas elas no mais alto morro.
Uma palavra de carinho
talvez alcançasse você. Tiraria pedra por pedra até chegar a você. Mas, estão
te puxando. Você queria ouvir por uma vez apenas: “Me desculpe”. E toda a dor
desapareceria. Mas, não há arrependimento. Ignorar parece o caminho fácil. Sem
a vergonha de admitir que esteve errado, que magoou alguém.
As pedras continuam ali,
se não for capaz de tirá-las logo aprisionará quem tanto diminuiu. Será
impossível voltar atrás e resgatar o sentimento que soterrou. Uma pequena
atitude com aquela palavrinha simples, podem salvar... Você vai dizer?
Não diz. O orgulho cega
e perdemos quem mais nos ama, quem mais nos tolera. Sabe aquela frase que diz
que “o amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”? É real, mas só
funciona quando se aplica aos dois lados. Quando os dois lados sofrem, creem,
esperam e suportam.
Não há um amor de mão
única. Não há um amor que sofre pela indiferença, que crê na reciprocidade, que
espera na ausência ou que suporta a traição. Esse amor bíblico é o amor
conjunto. É aquele que sofre, crê, espera e suporta tudo porque tem união. Não
é perfeito, mas perdoa porque se arrepende.
Amar sozinho é
impossível. Engana-se quem pensa que quem ama não desiste. Que pode pisar no
outro, que pode usar o outro que nada vai desgastar o sentimento. O amor
desgasta quando não tem amor de volta pra repor o que se dá ao outro. O amor
desiste porque estar sozinho não é relação. O amor desiste porque não se pode amar
por dois.