Quando
há pouco o que fazer as horas se arrastam e minhas pernas balançam impacientes.
Mas, não. Hoje a calmaria passava longe. Era mais um dia. Mais um dia de
trabalho infindável e eu estava animada, por fim, acho que gosto mesmo da
correria dos dias.
-
E se você morresse? Mais ninguém faz o seu serviço por aqui? Tive que esperar
um tempão até você chegar. E se você não chegasse?
Pois
bem, vi o que queria e fiz o que me pediu rapidamente. Não me ofendi, até achei
um tanto engraçada a questão, mas depois me refiz a pergunta por incontáveis
vezes. E se eu morresse?
Não
fico de fato preocupada com o serviço e quem o faria no meu lugar. A questão
vai muito além disso. A minha curiosidade inquietante e a mente vagante calados
por período indeterminado... Isso sim era ruim de se imaginar. No entanto,
seria isso que aconteceria se eu morresse?
É
claro que o que viria depois não importaria mais para mim, já que uma vez morta
e em qualquer lugar que não fosse aqui, não teria mais nada o que fazer sobre
os acontecimentos posteriores. De qualquer maneira, a questão subsequente foi
ainda mais desprezível: Por que então, viver?
Não
é sobre suicídio, tenho horror a esse pensamento mesquinho e fracassado. É
sobre o que nos leva a viver cada dia se o fim, mesmo que duvidoso, é certo.
Você
gosta ou não da sua carreira, dos seus amigos, da sua família, dos seus animais
e amores. Morrer pode tragicamente apagar tudo aquilo que você construiu com um
único golpe. Pense só no que isso culminaria... A irrelevância de todos os seus
atos.
Talvez
seja esse o significado daquela palavra que as empresas prezam tanto: proativo.
Ver os problemas antes que aconteçam e os solucionar. E como solucionar a
dizimação total pela morte do ser? Como ser realmente importante a ponto de
fazer falta na vida das outras pessoas?
Creio
que para fazer falta primeiramente é preciso fazer a diferença. Existem rótulos
coloridos demais nas prateleiras, nos fazem ter a visão turva quase que
permanentemente. Como ser diferente assim, sem acabar preto no branco?
Um
dia desses escutei um senhor com seus setenta e tantos anos falando sobre sua
mulher como se fosse um achado. Sentia-se sortudo por tê-la e argumentou estar
pedido se a mesma se fosse pela doença que há pouco enfrentara. Quis saber o
que tinha aquela mulher de especial e ele me disse simplesmente:
-
Ela sempre está lá.
Pareceu
um motivo plausível. Não a tornava estupefante tampouco enfadonha. Era a medida
certa. Estava lá, não só fisicamente. Estava lá, pronta a ajudar em bons e maus
momentos. Prestativa, o que tornava o marido do mesmo modo.
Percebi que,
assim, vale viver. Vale viver pela intensidade que se dá as pequenas coisas.
Fazer o seu melhor sempre trará o melhor das pessoas e acabará por te tornar
diferente. Diferente das pessoas que passam pela vida deixando beiradas
inacabadas, achando que tudo é supérfluo ou desgastante. Fazer o seu melhor e
ser prestativo é fazer a diferença e pessoas diferentes fazem falta. Pior do
que morrer, viver em vão.