O lado errado
01:37
O menino puxou o cabelo da coleguinha no parquinho. A mãe do
menino fingiu que não viu enquanto ria de algo no celular. A mãe da menina quis
saber. A mãe do menino disse que não havia nada a saber, que eram apenas crianças.
Enquanto isso, em algum hospital por aí, um médico dizia a
paciente que a dor vinha do seu psicológico, que não tinha nada a saber, exames
eram desnecessários.
Não há muito o que dizer sobre a falta de preocupação em ambos os
casos, mas talvez sobre dar a devida importância a cada um. A linha é tênue e
escorregadia, nós estamos bem no meio dela. Basta um deslize para passar ao
outro lado. Afinal, o que nos torna seres bons e ruins?
As consequências, as intenções! A mãe do menino não queria que ele
se tornasse um marido violento, mesmo assim, teve que assistir todas as vezes
em que foi indiciado. Não achou que a sequência de escolhas erradas para as
chances dadas culminariam na prisão do seu menino, mas foi o destino.
O médico estava com pressa naquele dia, as horas de plantão nunca
acabavam e aquela moça, pelo amor de Deus, podia esperar. Mas, o destino não
esperou e ele nunca mais esqueceu.
Todos nós cometemos deslizes. A princípio tudo pode ser resolvido
com pouco esforço e perdoado por menos ainda. No entanto, as situações podem
tomar rumos bem diferentes à medida que nos afastamos das pessoas a nossa volta.
Se colocar no lugar do outro é um exercício importante para não
ultrapassar a linha divisória. Pagar o mal com mal nunca foi solução porque a vida já se encarrega disso. É preciso se preocupar com o bem estar do outro,
dar amor e compartilhar a dor. Nem tudo está previsto na lei dos homens e você tem que escolher onde quer ficar.
É errado roubar para ter o que comer ou é errado roubar se for para acumular riquezas? É
errado a mendicância do morador de rua ou do playboy que passou na faculdade? O adultério é errado depois de quanto tempo de união e desinteresse?
Me pergunto agora quando foi que negligência
virou nome bonito para ausentar a culpa.
O mundo está virado de cabeça para baixo por causa das letras
miúdas do rodapé. Quem lê as letras miúdas? Só quem esgotou todas as chances de
ser perdoado por pouco. Só quem viveu de deslizes e acabou cativo do lado
errado da linha.
Não existiriam prisões lotadas se
houvesse respeito mútuo. Não precisariam nos classificar e separar se a sua
necessidade não fosse maior do que a do seu semelhante. Somos todos iguais até
decidirmos ser joio ou trigo.
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