Xeque-mate
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Tem cachorros que nascem e são vendidos à preços altíssimos. Esses, logo serão adquiridos e ganharão um dono. Outros, por sua vez, nascem e ficam à
mercê da boa vontade alheia, sem custo algum. Mesmo assim, talvez nunca sejam
adotados.
Há vacas em pastos imensos que servem somente para fornecer leite,
há vacas de confinamento que desde pequenas conhecem o triste fim.
Há pássaros que não voam, pássaros que não cantam, pássaros que
voam e cantam. Mas, não há um pássaro que deseje ser o que não é.
Isso, é chamado de sorte. Aquela partícula perdida no espaço-tempo
que seleciona o indivíduo aleatoriamente. Classificamos esses indivíduos em
dois grupos: com sorte e sem sorte.
Esses indivíduos se moverão pelo mundo, se cruzando, esbarrando,
tropeçando e caindo. Caindo bem onde deveriam estar (alguns lugares são mais
confortáveis do que outros). Esses lugares não podem ser trocados. Há uma
medida certa para cada assento. Que comece a dança das cadeiras!
Entre todos os seres que existem, só os humanos questionam a sorte.
Os humanos questionam a ordem natural das coisas e se revoltam quando descobrem
que o mundo não gira em torno de si. Os animais, “irracionais”, aceitam.
Simplesmente acreditam que o seu propósito de existência é aquele e não o do
irmão. Não cobiçam.
Os humanos perdem tempo demais observando aquilo que não tem,
querendo o emprego do irmão, o salário, o carro, a casa, a namorada e a vida do
irmão. Passam a maior parte das suas próprias vidas querendo viver a vida de
outro. Esquecem de amar aquilo que é seu por direito e dever. Odeiam a vida do
irmão por não lhe pertencer. Odeiam tanto que não sobra nada para amar. Nada
seu, nada dos outros. Humilham os amigos a sua volta e acabam sozinhos. Odeiam a
solidão.
Em algum lugar lá em cima, observam atentos cada um dos peões do tabuleiro, empurrando um ao
outro, desejando ser o primeiro a gritar xeque- mate. Foi um blefe... A sua
vida toda foi um blefe.
Esse humano já não sabe mais dizer o que não é. Infiltrado nos
olhos de outro já não sabe mais quem é. Tinha uma vida? Quando foi que se
tornou ruim assim? Não. Não sobrou mais nada para pensar. Mais ninguém para
amar. A mentiras foram tantas que se perguntassem não saberia responder a qual
dos dois grupos pertencia. Passa a vida do vizinho, passa a vida do irmão e...
Xeque- mate!
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