Fricote

03:47


É a minha vontade de explicar o inexplicável para alguém como para mim mesma que me colocou hoje de frente para tantas teclas novamente. Talvez porque esteja sentindo aquela coisa de novo. Aquela coisa que eu sei bem o que é, mas não posso admitir.
É uma sensação de borboletas no fundo do estômago, algo como quando se fecham as cortinas do palco. É algo como a mancha de batom na sua roupa nova ou o sumiço do seu sapato preferido.
Algo como não se lembrar de algo que estava na ponta da língua; algo como não alcançar lá no alto e sentir-se tão reduzida quanto Alice no país das Maravilhas.
É ouvir o último acorde daquela música triste, é sair do cinema antes do final do filme. É algo sobre se perder dos seus pais ainda pequeno num lugar movimentado. Algo como quando acaba o gosto do chiclete.
É assistir ao jogo e não ver o placar final; é saber que seu cantor preferido continua cantando e você não pode mais ouvir, é quando te negam o que mais queria.
É um vazio não sei do que, uma vontade de chorar não sei porquê e querer sair correndo não sei pra onde. Desgovernada.
É ver sem tocar. Sentir sem dizer. Morrer, tão viva. É alguém sorrindo e eu aqui só observando, para sempre. Porque no fundo eu sei que as borboletas não vão voar, as cortinas vão mesmo se fechar, a marca de batom nunca mais vai sair e o sapato vai aparecer.
A esperança vai e volta, ele também. Quem já não transita mais para tão longe sou eu. É tão difícil e tão extasiante ao mesmo tempo. São extremos demais para alguém que arriscou como eu. São inúmeros rostos que conheci, inúmeros sonhos que vivi. E agora, a esta altura, um chilique. Uma sensação inexplicável e de nome engraçado: FRI-CO-TE. Bendita ironia essa do destino querer traduzir o que se sente quando não se sente mais nada e se perde tudo.

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