Acima do céu que enxergamos

20:28

mulher grávida com céu no fundo

Deveria ser o lugar mais seguro para um bebê, mas algo o tornou inabitável. Ele não teve chance de mostrar o quão bom seria, não pôde ver as paisagens que ainda restam, não pôde tentar fazer daqui um lugar melhor. Doença psicológica, distúrbio hormonal, frieza, falta de amor e de fé, nada disso pode explicar, não há qualquer motivo nomeável que mudará o que aconteceu. Mal consigo ler a notícia sem sentir uma forte dor se espalhar por todo o corpo.
Não sei se ela tem ou não noção do que fez, mas não nos cabe julgar. Certas coisas estão muito acima do céu que enxergamos.
Resta a você, que toma seu café da manhã enquanto folheia o jornal e a você que escuta o noticiário em qualquer veículo fazendo mil coisas ao mesmo tempo, parar por cinco minutos. Cinco minutos apenas.
Respire fundo, preste atenção. Permita-se sentir raiva, pena, solidariedade, compaixão, angústia ou qualquer outro sentimento que não está acostumado. Com tantas tragédias acontecendo por aí o tempo todo, nada mais nos surpreende. Penso eu no fim dos tempos, quando notícias como estas não abalarão nossas casas distantes demais da realidade comum e não nos farão pensar em nossas famílias idealizadas.
Hoje mesmo ouvi no supermercado uma mulher culpar o jogo Pokémon Go por alienar as pessoas logo depois de perguntar à outra se assistiu ontem o capítulo da novela da Globo. Quem somos nós para culpar algo ou alguém pelas tragédias que nós mesmos provocamos em nossos mundinhos paralelos?
Crescemos achando que tudo obedece às nossas vontades, que tudo gira em torno de nós mesmos como se tivéssemos o centro do universo bem acima de nossas cabeças. No entanto, cabe a nós descobrirmos que não temos este poder e que somos insignificantes se comparados à imensidão dos caminhos e propósitos destinados a nós como um todo.
Há famílias que mal se falam, vizinhos que nunca trocaram uma palavra sequer. É nosso dever refletir e nos importar com o que acontece à nossa volta, com o que acontece com as pessoas que convivem conosco. E se conseguirmos, talvez um dia compartilhemos mais que fotos de uma vida “perfeita” nas redes sociais, compartilharemos sentimentos reais cara a cara com alguém e amenizaremos os nossos problemas dando paz aos noticiários e a nós mesmos em um lugar bem melhor do que aqui.

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