Não, eu não sinto mais nada. Nem raiva, porque raiva ainda é
sentimento. Tenho meu mais sincero nada por você. Então, manda tocar na rádio
aquela que eu gosto pra ver se eu escuto e ainda penso em você. Mira no fundo
do copo e vê se me encontra.
Era isso que ela deveria ter dito a ele. Afinal, todo mundo sabe o
que acontece no que eu chamo de “pós-festa”. O ex resolve que não quer
mais ser ex, o ficante galinha encarna o romântico apaixonado e a garota
desavisada tem uma recaída.
O interessante é que eu, que fico no papel de amiga, sou a última
a saber. No outro dia o celular toca e o discurso começa.
- Ah, ele me ligou. Cantou a nossa música. Acho que tive uma
recaída. - diz a tal garota desavisada.
Pois bem, o mal já está feito e o que sobra é vontade de dar na
cara do sujeito e da amiga. Porque, é claro, que ele ligou pra ela depois da
festa, depois da cachaça, depois da galinhagem... enfim, depois.
Depois que não tinha mais nada melhor a fazer, ele ligou. E ela, que com certeza tinha algo muito melhor em mente, cancelou só pra poder encontrar o indivíduo oportunista. Isso mesmo, O-POR-TU-NIS-TA!
Não, ele não liga quando ela está sozinha. Ele liga quando ela está se divertindo em Dubai com pelo menos sete homens pra escolher. (Tá, talvez não em Dubai, mas ainda sim com sete homens pra escolher).
Depois que não tinha mais nada melhor a fazer, ele ligou. E ela, que com certeza tinha algo muito melhor em mente, cancelou só pra poder encontrar o indivíduo oportunista. Isso mesmo, O-POR-TU-NIS-TA!
Não, ele não liga quando ela está sozinha. Ele liga quando ela está se divertindo em Dubai com pelo menos sete homens pra escolher. (Tá, talvez não em Dubai, mas ainda sim com sete homens pra escolher).
E aí, pra piorar, ela tenta te convencer que a recaída teve um
fundamento. Manda a letra da música e a foto do ficante quase chorando. Eu
disse "quase". Não me convenceu.
Ela não quer assumir, mas os amores ruins existem. São aqueles em
que você anseia a chegada por saber da partida. Aqueles que você quer estar
dentro, mas quando está, não vê a hora de sair. Aqueles que te fazem cometer
loucuras e logo internar-se dentro de si.
Não é uma doença de fato, mas tem um agente causador. Um parasita
que suga do hospedeiro toda a força e faz com que ele acredite que não pode
viver sem tal sensação. É aquele “sem compromisso” que te prende por querer. É
você em Estocolmo.
Ao tocar o telefone você promete nunca mais atender. E eu consigo
bem compreender porque você, indefesa, cede. Mas, definitivamente não sei
porque o telefone ainda toca. De onde vem essa ânsia em fazer alguém sofrer?
O fato é que, assim como ela, tem várias por aí, (quem sabe eu já
não tenha sido uma delas e que me perdoe minha melhor amiga) mas o meu conselho
fica pra todas: Põe aquela roupa bonita, garota. Vai pra onde ele não te
alcança. Deixa em casa o celular. Você vai conseguir alguém bem melhor do que
ele, alguém quem você não enxerga se estiver sempre esperando a festa acabar.
Aquele cara está lá, escondendo o medo de ficar sozinho atrás do
copo, com dois dedos de whisky e muito gelo, rodeado de amigos e música alta.
Não sobra tempo pra se lembrar da garota que sempre atende quando chama.
O meu maior orgulho vai ser quando o copo ficar vazio, a música
baixar e os amigos se cansarem dessa vida marota. Quando o brilho impecável no
carro não valer mais do que vale a minha amiga. Quando o sorriso meio de lado
dele não voltar porque agora é só dela.
Eu ainda vou pegar ele vagando por aí, com cara de pós-festa. Tipo
aquele momento em que você percebe que a ressaca durou bem mais do que a
bebedeira e que a noite nem foi tão boa. Boa mesmo era a ansiedade que você
sentia nos dias que a antecederam. Vai estar de olhos fixos na minha amiga
lembrando as tantas chances que teve. Vai praticar o desapego, antes tão
venerado, agora obrigado. E o celular? Vai tentar, com certeza ele vai tentar
ligar.
- Troquei de número, amiga!
E então, desistir.