A cura
13:19
Eu não sou uma pessoa ruim, na verdade,
ninguém é. Mesmo os atos ruins têm boas razões por trás de quem os fez, em
benefício próprio, em benefício de outros... Não importa. Já está
feito. Pelo menos tivemos a ilusão de acreditar, no momento, que tínhamos as
melhores intenções regendo nossas ações.
Hoje uma cegueira atingiu o país. Uma névoa
branca alastrou-se silenciosamente e tomou conta de nossas casas, nos impedindo
de ver claramente.
Não somos inimigos. Não estamos errados.
Não somos corretos. Em algum momento alguém cometeu um deslize e você vai
escorregar também. Lentamente todos iremos, estamos juntos nessa.
Enquanto nos ofendemos e gritamos ódio ou
amor eterno em turbilhão, palácios se refrescam com a brisa leve que chega as
suas janelas.
Continuamos cegos. A névoa permanece
presente. Alguns doutores tentarão encontrar a cura para a contaminação.
Buscarão até encontrar o primeiro infectado, quem alastrou a doença. Mesmo que
encontrem, será tarde demais. Para curar, é preciso tratar a causa e não o
sintoma.
Ainda assim, se o tratamento for, para nós,
bem mais caro do que a cura, qual das opções acham que teremos? Estamos
condenados.
A
doença, em alguns casos, ainda piora. Mesmo com o tratamento, ela tende a
aparecer em outros lugares. Logo, além de cegos, deixaremos de falar.
A
falta de comunicação então, será nosso fim. A cura ainda existe, ainda
funcionará. Mas, não convém. Então deixarão que não saibamos, dirão que não têm
como provar que realmente funciona.
A
doença vai piorar novamente. Além de cegos, além de mudos, não teremos mais
capacidade cognitiva. Não seremos mais capazes de nos entender.
Não
enxergaremos, não falaremos e os poucos que ainda restam, enlouquecerão. Doentes,
sozinhos e sem conhecimento, governará o caos.
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