Inferno Particular
17:00
Dizem que no inferno nós
repetimos nossos pecados infinitas vezes pela eternidade.
Nossas almas pesadas não
precisam de nada mais para tortura do que a própria culpa. Somos julgadores e
seremos julgados.
Passamos a maior parte da
vida apontando dedos. Sabemos mais sobre os sentimentos alheios do que sobre
nós mesmos.
“Ela não fica bem com esse
corte de cabelo”, “ele não deveria estar aqui”, “tenho certeza que ela não quer
isso”, “como é gordo”, “você não se esforçou ao máximo”.
Quem somos nós, senhores oniscientes,
para determinar qualquer coisa? Mal temos controle sobre os acontecimentos
diários que nos afetam...
Mesmo assim, continuamos
julgando. Nossa mente, no entanto, nos prega peças. Me pego balançando a cabeça
quando relembro algo que não deveria ter dito ou feito.
Eu só quero esquecer. E
quando esqueço, eu só quero me lembrar para não repetir nunca mais.
Somos inconstantes.
Confusos. Um turbilhão de palavras jogadas. Então me calo.
É um inferno particular. Sei
que no momento em que abrir a boca, a sanidade me escapará. Darei mais mil
motivos para a infelicidade constante. Afinal, é muito mais fácil ser
verdadeiramente infeliz do que falsamente alegre.
Estabelecemos padrões
altos demais. Estão sempre crescendo. Quando alcançarmos o topo da montanha, a
vista deixará de ser a mais bela. Não para quem ainda está lá embaixo, mas para
a nossa ganância que enxergou algo maior para cobiçar. O que nós temos já não
nos serve mais, julgamos e descartamos.
Porém, chega um momento
que nos esticamos, ficamos na ponta dos pés e o esforço é em vão. Quando caímos
em si, já não há como voltar atrás. Repetimos.
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