O que eu aprendi com a série La Casa de Papel
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La Casa de papel é uma minissérie espanhola que foi comprada pela
Netflix e teve seus poucos episódios longos, transformados em outros menores
estendendo a quantidade de episódios. O que me fez interessar pela série foram
as recomendações e comentários que ouvi, então, agora que comprovei todos eles,
venho contagiar vocês (sem muitos spoilers).
Podia começar dizendo que aprendi muito sobre economia,
administração, estratégia, investigação e outras tantas coisas que a série mostra claramente. Mas, não estou aqui pra dizer o que todo mundo já viu ou
ainda pode ver nitidamente assistindo alguns episódios. Vim pra falar do que
está implícito. É bem mais do que um roubo elaborado, é a história por trás do
plano.
Confesso que aprendi um pouquinho de espanhol, para contar
como algo “realmente útil” pra quem quiser me apedrejar por ser tão abstrata.
Isso porque assisti toda a segunda temporada com legendas, e meu entendimento
começou a não necessitar tanto delas ao longo do tempo. Em todo o caso, também
não vim para falar sobre línguas.
Vi muitas críticas, inclusive de colunistas famosos,
descrevendo ações do primeiro episódio e condenando toda a série por conta
dele. Meu conselho: Comecem a ignorar quem só assiste o primeiro episódio de
alguma coisa, isso porque muitas vezes a pessoa nem assistiu todo ele e levando
em consideração essa preguiça ou falta de entusiasmo, você não tirará proveito
algum ao ler.
Fora isso, concordo que o primeiro episódio nos faz recordar
de outros roteiros. No entanto, se prender a esse detalhe te fará perder o que
realmente vale a pena. Então, iniciemos os tópicos a que vim:
O seu bem mais importante não é o dinheiro
O plano todo dos ladrões se resume nisso. O sucesso ou o
fracasso dos nossos protagonistas se resume nisso. Quanto mais tempo ficarem
dentro da Casa da Moeda Espanhola, mais dinheiro farão. Mas, o que a série
também nos permite pensar é no quanto o tempo é mais valioso do que o dinheiro
e como pode passar mais rápido ou devagar em diferentes situações. Estar preso
em algum lugar, mesmo que por um motivo maior, pode nos enlouquecer. Estar
preso em uma vida que detestamos, pode nos destruir. Em casos assim, haverá
dias em que não fará sentido contar o tempo, dias em que não fará diferença
alguma viver ou morrer.
Assim, entramos em outras questões. Quanto tempo de vida
ainda temos? Quanto tempo desperdiçamos fazendo com que outros se tornem
poderosos enquanto trabalhamos como escravos humilhados? Quanto tempo perdemos
por não fazer o que mais temos vontade? E, por fim, quantos dias passamos na
Terra aguentando coisas que ninguém deveria aguentar? Acredito que esses sejam
os motivos que levarão nossos amados ladrões a tomar medidas inimagináveis.
Eu disse “amados ladrões”? Não somos capazes de odiar ninguém.
Ao conhecer a fundo alguém é que podemos dizer se gostamos
ou não delas e das suas ações. Talvez, ainda assim, nos pegaremos em dúvida. Da
mesma forma acontece com os ladrões e nossos sentimentos por eles ao longo da
série. Me peguei, inclusive, torcendo para os ladrões e dando “broncas”
mentalmente nas vítimas (e morrendo de raiva do Arturo) que tentavam escapar.
Será que sou eu a pessoa ruim?
Na verdade, todos dentro do plano têm seus motivos pessoais.
Assim como nós, todos têm uma história. Seus motivos individuais são o que nos
fazem ficar do lado de um ou de outro, simpatizando com a causa. Pode sim ser
explicado por psicólogos quando somos as próprias vítimas e denominado como
Estocolmo. Mas, como expectadores, conseguimos ver demais o sofrimento alheio e
mesmo os personagens mais egoístas (como a Tókio) acabam nos fazendo entender
sua escuridão.
Você pode ter muitos nomes, mas nenhum deles te define
Sérgio, o Professor (cabeça do assalto), colocou como regra
que todos os participantes deveriam escolher nomes e não criarem relações
afetivas. Claro que não funcionou tão bem quanto o esperado. Vemos em várias
cenas o quanto eles, inclusive o Professor, se apegaram através da convivência,
mesmo mantendo sigilo sobre seus verdadeiros nomes e outras informações
relacionadas ao passado de cada um. Se ver na mesma situação que o outro causa
empatia. Lembranças, momentos de dificuldade, felicidade ou dependência nos faz
criar laços. Por fim, nomes iam aparecendo, e de qualquer forma, já não
pareciam ter tanta importância quanto a definição que se revelava muito antes.
Não dá pra não se apegar
Mais uma vez, a questão do apego. Já ouviu dizer que entre o
amor e o ódio uma linha tênue? Pois é bem isso. Não dá pra ser bom 24h por dia.
Eu acredito que do mesmo jeito, não dá para ser ruim 24h por dia. Você ama
alguém, mesmo que seja só por um momento, mesmo que você descubra algo terrível
que te fará perder a fé na humanidade, você vai amar alguém e ter que confiar.
Mesmo que você seja a pessoa terrível, você ama alguém. Você vai amar e essa
pessoa vai fazer algo que te deixará chateado e não querer mais vê-lo. Vai te
fazer detestá-la por um tempo, mas isso vai diminuir. Talvez você até goste
dela um pouquinho, depois, quando a poeira baixar. Não importa quem você seja,
você vai se apegar em algo ou alguém nem que seja para poder sobreviver. Entre
idas e vindas, discussões e reuniões, nossos protagonistas não conseguiam se odiar
e vemos isso em quase todas as cenas.
Você não sabe quem são os mocinhos
Esse aliás, foi o tema de uma das discussões entre o
Professor e a inspetora Murillo que fizeram toda a diferença no desenrolar da
situação. Quase no fim da segunda temporada, Sérgio conta a Raquel sobre seu
pai (nas entrelinhas, é claro), sobre seus sonhos e a situação em que se viu
obrigado a fazer algo maior para salvar seu filho doente quando não obteve
ajuda do governo espanhol para o tratamento.
Retomando o que eu já
havia dito, ninguém é inteiramente mau ou bom. Não dá para apontar os dedos e
ignorar toda a história. Visto com esse olhar, o Professor, deixa de ser um
ladrão e passa a ser a resistência de que tanto se fala. Aquele que não queria
machucar ou roubar pessoas comuns. Aquele que queria protestar e fazer justiça,
além de honrar a morte do pai.
Ainda mais próximo do
fim da série, Sérgio fala sobre a crise e sobre anos específicos em que os
próprios bancos e agentes financeiros foram capazes de fabricar o próprio
dinheiro e repartir como bem entendiam entre os mais ricos enquanto o restante
da sociedade passava por dificuldades. Acredito que o Brasil, na atual situação
de desemprego e mão de obra mal remunerada, gostou de ver (nem que seja só na
série) os menos favorecidos ganhando.
Bella Ciao
Eu já havia escutado essa música, mas não sabia o peso dela
até ouvi-la em meio a flashbacks no último capítulo da primeira temporada
(quando o Professor e Berlim aparecem tendo uma conversa um tanto intrigante
sobre o passado dos dois), e correr pesquisar sobre.
Com músicas muito bem
selecionadas e com significados que dão ainda mais empatia pela trama, Bella
Ciao foi a escolha mais aplaudida pela crítica. Não só por ser mundialmente
conhecida, mas pela força que carrega cada palavra e quem as entoa.
A origem da música
não é precisa, mas se tornou símbolo da resistência italiana durante a Segunda
Guerra Mundial e embalou muitos protestos desde então. Simpatizo com a música
principalmente pela composição. A letra é abstrata e em poucas palavras
consegue passar exatamente o que se quer: Liberdade!
“O partigiano, portami via. O bella
ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao.”
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