E se viver fosse uma escolha, você escolheria viver?
Não, o que eu estou sugerindo não é a morte ou a ausência dela.
Estou questionando a existência.
Todos nós temos problemas... Grandes problemas em proporções
desastrosas à nossa pequenez. Ao longo da vida, nem todos eles poderão ser
solucionados e o acúmulo constante de infelicidade torna nossa existência
pesarosa.
Queremos então, por fim ao que nos faz mal. Mas, como? Como apagar
toda a angústia? Como conseguir levar uma vida plena e livre se não controlamos
o universo?
“Ah, como eu gostaria de voltar a ser criança sem preocupações.” -
Ouço muito isso.
Ainda assim, há crianças que em seu leito de dor, quando
questionadas sobre o que querem de presente de natal, apontam para os céus sem
nem mesmo conseguir falar.
Nenhum de nós está imune. Nenhum de nós pode escapar do sofrimento
por uma vida inteira. Tenha você dinheiro, saúde, amigos, amor, nada ou muito
mais do que isso.
Somos pegos cobiçando a vida alheia por incontáveis vezes.
Questionamos cada passo de sucesso do outro sem nos perguntar o que isso lhes
custou. São aparências. Por fora também somos perfeitamente cobiçáveis.
Costurando nosso desespero em máscaras teatrais conseguimos curtidas, aplausos
e nomes em letras miúdas. Mas, nada disso nos faz inteiros.
Então, eu te pergunto mais uma vez: Se viver fosse uma escolha,
você escolheria viver?
Deixaria todas as lembranças ruins para trás, todos os problemas,
a dor. Tudo isso seria banido e sua alma elevada ou não, deixaria de penar.
No entanto, como nada vem de graça, a ausência de infelicidade vem
junto com a ausência de felicidade. Um combo inseparável.
O mais completo conjunto de nada. Nada a ser exibido, nada a ser
consumido, apenas nada. Um vazio no lugar da existência, no lugar do pecado e
da vergonha do suicídio, das lágrimas do seguir em frente.
Você escolheria varrer totalmente seu ser ao esquecimento?
Deixaria a vida seguir sem a ter ao alcance dos olhos? Sem traições, sem
mentiras, sem desgostos. Porém, sem afeições, sem descobertas, sem consolo.
Não, você não saberia escolher. Você tem medo do incerto. Acontece
que tudo na vida é incerto.
Então eu quero que de hoje em diante
você pare de dizer que as coisas vem com o tempo, pois você não tem certeza.
Quero que você pare de dizer que o que é do outro foi conseguido com sorte,
porque o que você tem não foi conseguido com sorte também. Quero que você pare
de dizer o que cada um é obrigado ou não a fazer, porque você não comanda nem a
sua própria vida. Você não pode escolher, então não escolha nem por si nem
pelos outros.