Como antes
12:17
Eu fui egoísta e fugi da dor. Mas, amar não era isso. Ainda que
não soubesse naquele momento o que era exatamente o amor, não poderia ser tão
mesquinho.
Percebi tempos depois. Amar significava sofrer mais pela dor do
outro do que pela nossa. E eu o fiz sofrer, o fiz sofrer pela minha dor e pela dele próprio.
O fiz sofrer porque não sabia que o amava tempos antes, e agora, quando penso
no que fiz, sinto a dor intensificada como se tudo voltasse à tona. E sei que o
amo, e sei que não voltarei a amá-lo. Não como antes.
Confuso, sim. Perdi meus valores e deixei de ser quem eu era. Ele nunca
deixaria de ser. A culpa era minha, que procurei em outro lugar tudo aquilo que já tinha. Não
encontrei.
Mesmo sem achar, fiz-me ver. Iludida, agarrei falsas promessas.
Um sonho lúcido. E agora quando penso no que fiz, no que tinha, no que achei
que conseguiria... e perdi. Quando penso no que fiz o que resta é a voz
embargada, as palavras presas em um nó na garganta e um soluço interminável.
Quando penso no que fiz, vira história.
História sofrida, vivida, saudosa, sem ponto final. É um apanhado
de linhas, jogadas numa página branca que eu fiz questão de rasgar.
Ele me deu bem mais do que tinha e eu quis alguém que tinha e não
dava. Ele nunca me contrariou e eu quis alguém que vivia pra me dizer o que
fazer. Ele não era o tipo que gostava de sair, e eu quis alguém que saia sem
que eu gostasse. Talvez eu precisasse mesmo de mais opinião alheia, menos
balançares de cabeça e sorrisos gratuitos. No entanto, não sei se ainda
preciso. Não importa, começo a acreditar que nunca saberemos.
O tempo passa e nós podemos viver olhando para o passado, mas como
alguém que anda por ruas perigosas, logo acabaremos tropeçando. Então, mais uma
vez, não vimos o que tínhamos e perdemos.
Eu recebi notícias suas. Eu te trai, e você não desistiu por isso.
Então seguiu seu destino como eu segui o meu. Hoje com dois pares de alianças
diferentes saberemos finalmente quem somos e os nossos valores. Podemos
simplesmente esquecer tudo aquilo e olhar o horizonte. Por fim, erros não podem
ser apagados tão pouco ditar o resto dos nossos dias.
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