Ser humano não é doença
09:16
Eu tinha uma passagem, só de ida. As contas seriam todas pagas e o
lugar, era o melhor que eu poderia pôr os olhos até o fim da vida. Era a
chamada grande chance, a batida da sorte na porta, o bilhete premiado... chame
como quiser.
Então, me diziam:
-Vá!- como se fosse fácil, porque de fato parecia fácil.
E se eu dissesse não tudo isso passaria e então me dirigiriam a
palavra como se eu fosse imbecil, incapaz.
Era fácil embarcar rumo ao paraíso. Difícil mesmo era largar tudo
para trás com a possibilidade de descobrir posteriormente que o paraíso não
havia sido feito para mim. Ah, a insegurança... Sempre colocando tudo a perder.
- Saia da zona de conforto! – tantos me disseram.
Mas, sair por quê? Se está tão confortável aqui, se está tão bom
para mim, porquê é que eu tenho que sair? Por que trocar o certo pelo duvidoso?
As pessoas fazem isso o tempo todo. Trocar o certo por não se
satisfazerem mais, trocam o que têm mesmo que isso signifique não ter nada no
futuro. É como estar preso eternamente naquela cabine do sim ou não nos
programas de TV. Você nem sabe o que quer, o que tem, ou o que vai ter. Mas, é
obrigado a tomar uma decisão.
Escolha um lado. Bom ou ruim? Céu ou inferno? Prove então do que é
capaz para conseguir o que quer. Lute. Vença!
Quando foi que começamos a ter que nos explicar? Quando foi que
começamos a buscar no outro nossa própria aceitação?
Não me chame de negro, porque sou negro. Não me chame de magro,
porque sou magro. Não me chame de branco, de alto, de baixo, de homossexual. Eu
não estou nem aí.
Eu tenho nome, mas também sou magrela, quatro olhos, de pele café
com leite, com cabelo tingido e vou pra festa sem maquiagem se você quiser ou
não reparar. Eu sou tudo isso e tenho um nome como você ou qualquer outro.
Eu tenho direto de ser como sou e também de querer ser quem não
sou. Tenho direito a duvidar e a mudar de opinião. Eu sou humano e ser humano,
não é doença.
Os caminhos, as escolhas, nosso meio, as influências gerais da
natureza nos mudam ao longo da vida. Se ainda pequena, eu adorava andar
descalça pela casa, não quer dizer que odiarei os sapatos pela vida toda. Assim
mesmo, uma experiência ruim com um sapato apertado, pode me fazer abominar todo
um modelo, por longo período de tempo.
A psicologia existe para nos redescobrirmos, para nos aceitarmos
como somos, o que somos e conviver com nós mesmos se ainda não soubermos.
Talvez, depois do acompanhamento, ainda sejamos confusos. Mas, que sejamos
confusamente felizes em nosso interior.
Buscamos nos adequar a grupos, pertencer aos estereótipos e com
isso nos adequar com base no que os outros interpretam bem. Façamos sim,
terapia. Mas, façamos apenas se quisermos. Somos o que somos, e deixar de ser é
impossível senão à morte.
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