Não me conformei
04:19
Eu não me conformei. Não previ a sua partida nem jamais a desejei.
Eu não me conformei. Não compreendi o jeito rebelde dos ventos naquele dia, bem
como ainda não compreendo o vendaval que deixou dentro de mim.
Eu não me conformei, no entanto em momento algum deixei de ter
esperança. Esperança não é o mesmo que ter fé. Eu não tinha fé, passei a ter.
Mas, ainda assim, não me conformei.
O incômodo é claro em minha mente, em minhas ações. Todos sabem.
Jamais olharia para as cadeiras no jardim da mesma maneira juvenil. E se eu não
tivesse saído mais tarde do trabalho naquele dia... talvez eu não precisasse me
conformar agora.
Eu não me conformei. Todos pedem para que eu siga a minha vida,
mas eu não me conformei. Me sinto como uma daquelas pessoas que tem que tomar
uma decisão. Precisam decidir se desligam ou não os aparelhos. Se deixam a
outra partir de vez das suas vidas.
Eu não me conformei. Logo eu que sempre gostei das coisas bem
organizadas, tinha alguém pra bagunçá-las pra mim. Agora sobra tempo, sobra
inquietude e mais nada a arrumar.
Tem um par de canecas, um par de toalhas, um par de travesseiros,
um par de escovas, mas me falta um par.
Dizem por aí que a soma das nossas escolhas definem nosso futuro.
Eu fiz a escolha errada, em algum momento eu sei que fiz. Eu tive o amor e de
amor o futuro me guardou lembranças e uma lápide fria e cinzenta.
Nunca fui um sucesso na carreira ou na cozinha e tenho uma porção
de amigos que gostam mais de você do que de mim. Apesar do seu jeito
irritante... Era um desafio e desafios sempre me atraíram tanto.
Porém, agora o que resta? A monotonia das horas ainda vai me
consumir. Vai consumir também os bens materiais que tanto prezo até um dia não
existirem mais. E o que vai restar?
Eu não me conformei e isso não muda as coisas. Tampouco mudaria se
eu me conformasse. As horas extras no trabalho me trouxeram algum dinheiro,
porém nem todo o dinheiro do mundo traria conforto a minha vida agora.
Queremos sempre mais, queremos a perfeição. Acumulamos
quinquilharias para preencher espaços em nossas casas e abrimos buracos
profundos nas nossas almas. Eu só queria dizer mais algumas palavras a você
agora. Eu queria poder respirar por você.
Essa crônica é inspirada
no livro que virou filme, A escolha, de Nicolas Sparks.
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