Engana- me se puder
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A série Lie to me (Engana-me se puder) é uma
história baseada no psicólogo americano Paul Ekman, pioneiro no estudo das
emoções e expressões faciais.
Vemos diversas vezes na série pessoas mentindo
não só para os outros quanto para si mesmas. Em um dos capítulos, ao ser
questionado por Gillian Foster, o personagem principal Dr. Cal Lightman (que é
inspirado em Paul Ekman) afirma que “As mentiras sempre se cruzam”. A série que
retrata o cotidiano dos funcionários de uma empresa especializada na leitura da
linguagem corporal e micro expressões faciais, nos permite ver uma centena de
mentiras que acumuladas pelo acaso e talvez um pouquinho de sorte (ou a falta
dela) culminam em tragédias.
E então, a questão levantada por Gillian ganha
ainda mais minha humilde atenção: Por que não dizem a verdade? Se dissessem,
muitas dessas tragédias seriam evitadas”. Que a mentira tem a perna curta, os
antigos já diziam. Mais do que qualquer prisão a sua consciência pode ser a
maior definição de cárcere. E no misto de acaso e sorte temos o arrependimento,
aquele que vem depois de um ato e que no entanto deveria anteceder qualquer
pensamento.
O arrependimento está diretamente ligado ao
caráter das pessoas, quem mente sobre uma pequena coisa pode muito bem mentir
sobre algo muito maior, mas não quer dizer que o fará.
Ainda na série, em outro episódio, e que talvez seja
o que mais me chamou a atenção, um cliente procura ajuda de Cal Lightman e o
caso fica nas mãos de dois dos seus funcionários: Ria Torres (Monica Raymund) e
Eli Locker (Brendan Hines).
O cliente em questão é rico e quer pedir sua
namorada em casamento, mas não sabe se deve, tem medo de que ela esteja
interessada apenas em seu dinheiro. Torres e Locker começam então a fazer
contato e analisar a namorada do rapaz. Descobrem que sim, ela tinha interesse
no dinheiro dele.
O rapaz fica furioso quando Locker mostra as
expressões da sua namorada explicando cada uma delas, mas logo em seguida
Torres volta com outro apontamento. Atente-se agora.
Torres afirma que o interesse no dinheiro é real
e foi o que claramente fez a namorada se aproximar dele, no entanto, há mais
uma expressão toda vez que citam o nome do rapaz. É o amor que ela sente por
ele, que só foi permitido após o primeiro contato e estabelecido ao longo do
tempo. Assim mesmo o cliente não se convence, mas então vem o mais interessante.
A namorada, muito bonita, só conseguiu se
aproximar do rapaz milionário por sua beleza, que mostra então que ele também é
um “interesseiro”. Querer estar ao lado de alguém para aproveitar do seu
dinheiro é tão ruim quanto pela beleza. Ambos começaram a se relacionar pelo
interesse mútuo de um para o outro.
Penso eu então, que os seres humanos estabelecem
conexões primeiramente pelo interesse em comum, seja dinheiro, cargo social,
beleza, atenção, carência, amizade, entre outros. É natural dos seres humanos
procurarem características que destacam o outro ser e os mantém de alguma forma
próximos e não devem ser condenados por isso se os fins justificarem os meios.
O interesse não é ruim. É ele quem apoia os
casais para que o relacionamento não se desgaste. Temos que ter admiração pelos
nossos companheiros. Admiração é saudável. O que é ruim é manter uma relação
apenas por interesse. Mentir para si mesmo e para o outro, viver a infelicidade
de aprisionar a sua liberdade e da outro também por mero capricho.
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