O que escondem esses seus olhos
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Quer
saber? Eu bem que te avisei. É clichê, mas eu realmente te avisei. Eu te disse tantas
vezes que a bebedeira ia passar, que a ressaca ia chegar, que os amigos se
dispersariam e que eu também te deixaria. Então, você riu.
Eu
gostava da sua risada. Por qualquer que fosse o motivo e nas horas mais
impróprias aquele sorriso meio de lado logo dava início ao descontrole total.
Eu era tão séria e incapaz de entender.
Então
eu te avisei novamente, quando ainda não havia escolhido a solidão, sobre os seus
possíveis caminhos. Você não quis trilhar. Adorava estar na corda bamba, parado
exatamente no meio. Era longe o suficiente para não ter que voltar ou conseguir
chegar.
Totalmente
confuso, com parâmetros insuficientes, eu fui a única a te avisar. Te avisei
que não era destino e que não era carma. Eu te avisei sobre as chances de mudar
e você abriu mão de todas elas.
Eu
bem que te avisei que elas acabariam e, quando acabassem, só restariam as minhas
palavras. Eu sei que ainda ouve, sei que as minhas palavras ecoam nos seus
ouvidos te dizendo tudo o que ia acontecer e aconteceu. Então não me olhe com
esse olhar. Olhos de Capitu. Eu bem que te avisei.
Não
aconteceu tudo exatamente como eu lhe disse, não desafio nem um pouco a lógica,
sou toda feita de razão. Mas, você é alma livre, prisioneiro apenas da sua
própria inconstância.
Por
fim, eu te pedi para ir e você ficou. Eu te pedi uma pequena palavra para que
eu pudesse ficar e você não disse.
Aconteceu
devagar e inúmeras vezes. Você tentou escapar metodicamente em vão, indo e
vindo em ondas quebradas. Eu quis estar lá, mas mareada te deixei.
Assim,
ficou completamente só. Em pensamentos e cercado por tanta gente, ainda só. Talvez
você tenha tomado uma decisão, talvez eu apenas continue sem entender o que
escondem esses seus olhos.
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