Ioga e certezas

14:28

a queda só é certa quando você acredita nela

Era um dia como tantos outros. A chuva de janeiro tamborilava na janela, incessante. Já perdia as contas de quantos dias o sol não aparecia. Sai cedo e sob o guarda-chuva via os pingos diminuindo.
Cheguei a aula de ioga alguns minutos adiantada. Me preparei para a rotina comum. Sempre fui muito boa nisso. Equilíbrio, concentração, mas principalmente a leveza e a calma. Havia, enfim, (em minha aversão aos esportes) encontrado uma atividade física que combinava completamente comigo.
Até ela entrar pela porta.
A aluna nova, que de nova, não tinha nada. Entrou pela porta principal e eu deveria estar surpresa, ou simplesmente não ter sentimento algum. Era apenas mais uma aula. E eu já a conhecia. E por conhece-la tão bem, dispensava apresentações.
Era do tempo do colégio, eu não deveria me lembrar tão bem assim. Mas, vívidas as memórias, em cores e sons eu sabia o seu nome e suas manias. Tempos atrás, quando estudávamos juntas, ainda meninas, ela adorava implicar comigo por todas as coisas em que ela era melhor do que eu.
Adorava tirar vantagens e me diminuir por isso ou aquilo. Eu queria esquecer. Jurava que havia esquecido. Tantos anos depois, aquela bobagem infantil não afetaria minha vida.
Não deveria afetar. No entanto, passei a aula toda me desiquilibrando, respirando fundo, pensando em qualquer deslize futuro e na gargalhada ressoante pela sala que seguiria meu infortúnio.
Não parava em cima dos meus próprios pés. O pensamento era somente um: eu não conseguiria.
Ela riria mais uma vez. Depois de tantos anos, vencido o fracasso, ela ainda me fazia tremer e vacilar. Não sobrava mais nada em que ser boa, nada em que eu fosse um dia melhor do que ela. Não para rir, apenas para ser.
E não, não foi ela quem me colocou naquela posição, não foi ela quem decretou meu fracasso. Fui eu mesma, foi minha consciência. Eu não era suas palavras, mas as aceitei. Tomei-as para mim e as fiz ser real. O pensamento não atrai, ele transforma. E se o fracasso um dia me atingiu foi porque parei e esperei que ele chegasse, foi porque nem eu mesma acreditei no sucesso precedendo o meu nome.
Esperei, inspirei, cedi. Não me torturaria pelo inevitável. Fui ao chão. Não escutei coisa alguma, somente eu, no centro das minhas certezas falhas.

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