Amor consciente
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Existem vários tipos de amor e todos eles são únicos. Arrisco
dizer que o mais bonito de todos eles seja o amor platônico. Muito embora nem
tudo que é bonito signifique que é certo.
Por amor entende-se aquele que admira e tem a reciprocidade do
objeto do seu sentimento. No amor platônico existe a estima do outro como a si
mesmo ou talvez mais. Um desejo inquietante de fazer determinada pessoa feliz,
mesmo que essa não se esforce nem um pouco para retribuir.
Inclui ver no outro algo que ninguém mais vê. Transforma uma
característica tão pequena em algo memorável. Queima e te faz inquieto. É
veemente e não quer a mesma em troca. Não busca explicação, não baseia em
resultados, permanece sonhador. Não encontra a paz, mas nunca de fato a
procurou. Decora datas, coleciona sorrisos, chora lágrimas de outrem e sorri
apenas por estar ali.
É um humilde servo, mas nunca escravo. O amor platônico se cansa.
E, por esse motivo, não dura. Dá tanto e não recebe nada que acaba sem ter mais
a oferecer. O amor platônico é idealizado e quando descobre a realidade não a
suporta, deixa-se esvair. Compreende que não pode amar alguém que não quer ser
amado e não pode fazer alguém feliz se outro alguém já faz.
É preciso muita paciência para se adquirir um e ainda mais para se
livrar do mesmo. Aprender amar a si antes de tentar amar a outro é a chave.
Um amor já consciente é morno. Não queima ou congela. Não arde ou
petrifica. Ao contrário do amor platônico, não causa atordoamento e cura a
tristeza. É calmaria e estabilidade. É o terror na vida dos libertinos.
É o que dura pois tem sempre energia pra recarregar. Não tira o
ar, renova o fôlego. É o ambiente agradável do seu quarto que te faz pensar se
quer realmente sair e quando sai, sempre põe o travesseiro na mala. Um amor
consciente sabe sua capacidade e seus limites. É a segurança em meio ao mar. É
ter pra onde voltar depois do furacão. Mas, tem medo. Teme o abandono mesmo que
nunca vá acontecer.
Se houvesse então reciprocidade e devoção em tudo, logo haveria
paz. Sejamos menos alheios, saibamos que o problema do outro também nos afeta.
Tenhamos a devoção dos platônicos e igualdade dos conscientes. A beleza está no
equilíbrio da balança.
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