Amnésia
03:44
Sei que você já perdeu a hora ou esqueceu de um
evento. Constantemente faço isso. Não condeno a falta de memória. Na verdade,
acredito em dois grupos de “desmemoriados” e você, assim como eu, está em um
deles.
Não, eu não me recordo da rua em que eu deveria
virar, não me recordo da cor daquela casa e do nome do restaurante caro se me
levar a um. Eu não seria capaz de pensar no fim, nem tão pouco apontar o começo
de coisa qualquer. Não me lembraria de nenhuma definição que conseguisse caber
perfeitamente ou explicar de uma vez o inexplicável...
Nós só nos lembramos bem daquilo que nos marca
de alguma maneira e o material não me marca. São os sentimentos abstratos que
tomam forma rapidamente.
Quase sempre não sei para onde estou indo,
tenho dificuldade em lembrar. Esqueço onde deixei a caneta, o guarda-chuva, as
chaves de casa, meus sapatos e até o carro, mas nunca esqueci onde deixei
alguém. Nunca me esqueci do momento exato em que partiu ou decidiu ficar.
No entanto, existem aqueles (o segundo grupo)
que esquecem das pessoas e do que elas significam. Porque é claro, todas as
pessoas que entram em nossas vidas significam mudanças. Mudanças que eu não
saberei definir e por mais que tente, você também não conseguirá, então, não se
preocupe, você está no primeiro grupo.
O restante se esquece pela indiferença, pelo
ego, por sentimentos que não são sentidos da forma mais pura. Na fração de um
segundo ou nos intermináveis dias. Na hora certa, do jeito certo, com as
melhores pessoas.
Confundem pensamentos, bagunçam memórias, se
esquecem e abandonam. Nós, que só nos esquecemos das coisas palpáveis,
sofremos. Não se culpe, não procure explicação. Nunca haverá alguém que diga:
“Olhe, eu tenho a explicação!” e de fato a terá. Especulação do destino! Nós
nos apoiamos a ideias, nos agarramos em mentiras torcendo para que se tornem
reais. Transformamos, moldamos, persuadimos, insistimos e somos frustrados. Por
quê? Porque queremos um mundo bom com pessoas boas e quando não são, as
pensamos assim. As coisas só são aquilo que queremos na nossa própria cabeça,
fora dela tomam seu próprio rumo.
Do
contra. Amantes do avesso, errantes e inconsistentes. Feitos de vento, alma e
pensamento somos nós. Essa ideologia de que eternidade é utopia é que nunca foi
real. E para os amnésicos um só consolo: os caminhos incertos com as pessoas
certas nos levarão onde deveríamos chegar.
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